Semana passada, a Sony lançou oficialmente seu PlayStation 3 por aqui. Sabemos das dificuldades de vender no Brasil, competição desleal, carga tributária elevada e aquela coisa toda. É normal que isso faça com que o preço da mercadoria vendida nos conformes seja irreal, e tudo isso foi usado para justificar o preço de R$ 2.000.
O problema: a Sony fez questão de dizer que era o melhor que podiam fazer, que tiraram de última hora R$ 300 do preço e que não estavam ganhando dinheiro com isso. Escrevi que tinha argumentos para desconfiar da caridade deles e que, se a Sony não lucrava, a Microsoft então deveria estar perdendo muito dinheiro com seu Xbox 360 - que não é de forma alguma barato, mas tem um preço substancialmente melhor que o PS3, mesmo com extras, e custando o mesmo lá fora. Procurei Guilherme Camargo, o gerente de marketing do Xbox Brasil para que ele explicasse como eles conseguem ganhar dinheiro neste país difícil - sim, a operação está no verde - contra piratas e impostos e cobrando menos que a rival. O papo foi longo e revelador.
Como a conversa foi mais um papo, com um monte de perguntas, resolvi encurtar as coisas separando o que o Guilherme falou por tópicos.
Temos de esclarecer um pouco dos fatos. Na hora que fazemos a composição dos preços, há alguns fatores importantíssimos: temos que sempre considerar frete e seguro, o que pode chegar a 10% do valor. Depois a carga tributária que é realmente muito elevada e todos os impostos que são cascateados, o que dá algo em torno de 151% de tributação. Depois tem desde o aluguel do espaço de venda à margem do distribuidor. Tudo isso acaba tirando um pouco a competitividade sobre o mercado paralelo. O Fantástico deste domingo fez uma matéria muito boa mostrando como alguns importadores colocam um valor subfaturado e pagam imposto sobre um valor menor.
A Microsoft está no mercado brasileiro há quase 4 anos, já subsidiamos muito da operação porque pensamos a longo prazo. Fizemos muito um trabalho de bandeirante, quando o PS2 era 90% do mercado. Sofremos todas as críticas que a Sony está sofrendo agora [ele chegou em 2006 a R$ 3.000], e aprendemos muito no mercado. Conseguimos condições muito boas, aprendemos o quanto vale reduzir a margem em determinada linha para ganhar daqui a X tempo. Conversamos com todo o canal do varejo e conseguimos convencer as principais redes a não importar mais o produto paralelo. Temos que manter a nossa linha comercial sadia para o cara não perder no futuro.
Muitas melhorias operacionais, como negociação de frete e seguro, avaliações das rotas, transporte aéreo ou marítimo. Outra coisa foi o próprio fator da posição da Microsoft no Brasil, de acreditar no médio e longo prazo. Mais outro motivo é a subsidiação da Microsoft global, que vende o console para o mercado brasileiro por um preço menor que venderia para um mercado mais maduro. O varejo acabou comprando a idéia, porque ele acaba vendendo bastante jogos e acessórios. Na média estamos no verde. Vamos muito bem, mas poderíamos estar melhor.
A competição da Sony neste momento é muito mais com eles mesmos. Até pelo fato de ter demorado todo esse tempo ela vai concorrer com um produto mais barato importado de outras maneiras. Mas é bom, podemos nos aliar para discutir melhor a questão dos impostos com o governo.
Só posso falar pela Microsoft. A nossa disputa com a importação não-oficial era difícil. Tínhamos um produto mais caro oferecendo uma margem menor. E a margem para o varejista no Xbox 360 é pequena, a menor de tecnologia, menor que TV. A margem do varejo é um pouco maior do que nos EUA, sim. Lá eles ganham mais em volume e a margem é um pouco menor. Mas não diria que a diferença de preço está na margem. De todo modo, o varejo tem vários custos também, como o aluguel de um ponto em um shopping center. Não somos nós que estamos garantindo o ar-condicionado. Eu diria que em hipótese alguma temos uma margem abusiva.
Para o varejo o console pode ter uma menor margem, mas o game pode dar um lucro maior [Guilherme disse "por aí" quando coloquei o lucro em torno de 25% - 30%]. Se vender consoles e muitos jogos, os jogos podem compensar não digo perda, mas a não tão atrativa margem. A Microsoft tem um subsídio do valor do jogo nacional - foi um acordo da subsidiária brasileira com a americana. É um pouco mais caro ainda que o importado, mas R$ 20 de diferença faz com que muitos consumidores prefiram o oficial a se arriscar a comprar no site americano ou Mercadolivre. É um diferencial a mais.
Não subsidiamos de fato. Na realidade eu poderia fazer mais dinheiro vendendo por um preço X, mas é a tal elasticidade de preço, aquela curva das primeiras aulas de Economia. Se vender mais barato ganho na quantidade. Jogos e acessórios vendem muito mais que console e tem um preço mais competitivo, então é interessante para o lojista. Mas ter o console é importante, é o que marca a presença no varejo, uma linha depende da outra. A Microsoft global está muito feliz com o nosso resultado. Em termos de performance de produtos, nunca estivemos tão agressivos. Temos diferenciais competitivos e para nós a competição é muito mais justa agora.
Até o final do ano teremos Live Brasileira e Kinect. O modelo novo (slim) deve chegar em novembro. Não sabemos precisar o preço final dele, possivelmente haverá um acréscimo. Teremos Halo [Reach] e Gears of War [3] em português em um mesmo ano fiscal, estamos bem fortes.
Hoje o nosso mercado oficial é 10% [ou 90% dos Xboxes comprados hoje no Brasil ainda são do mercado cinza ou importados]. Quando chegamos não era nem 1%. Hoje tanto o mercado paralelo quanto o oficial crescem. A Sony vindo oficialmente só vêm a somar.
Muita gente nos criticou semana passada sobre a nossa postura em relação ao lançamento do PlayStation 3. Afinal, era um evento importante para os gamers brasileiros e tínhamos que comemorar, como muitos sites especializados fizeram. Não somos tão amargos e estamos felizes em parte: adoramos o PlayStation 3 e é bom ver que ele terá manuais em português e assistência técnica local.
O problema não foi exatamente o preço: a Sony e a Microsoft no Brasil têm o direito de venderem o que quiserem pelo preço que quiserem e não vamos "reclamar" disso. Só queríamos questionar a velha justificativa dos impostos altos. Questionar não é dizer que ela é mentirosa, mas apenas que há argumentos sólidos para acreditar que não é só isso. E o que me incomoda, especialmente, é essa posição de vítima (tanto da Sony e Microsoft), de fazer parecer que vender um videogame tão caro no Brasil é quase como um favor, que eles se esforçam um bocado e afinal vamos ganhar muito como clientes pagando mais por algo nacionalizado.
Essa discussão é bastante difícil. E alguns vão achar que a "perseguição" à Sony continua com este post. Não é nada disso. Já fizemos nosso desabafo, hoje mostramos o lado da Microsoft, que é parecido com o da Sony, e estamos abertos para ouvir a Sony Brasil aqui. Mas se eles não quiserem falar com a gente você pode ler a longa e muito boa conversa que o Anderson Gracias, gerente do Playstation no Brasil, teve com o Pablo Miyazawa aqui (parte 1 e parte 2). As explicações deles estão todas lá.
De todo modo, a explicação das empresas não é a única verdade. Vamos continuar apurando informações sobre o assunto, da composição de preços e impacto dos impostos às margens do varejo, estudos sobre a fabricação local, quanto que o mercado paralelo movimenta e tudo isso. Será que vale à pena para o consumidor uma presença nacional mais agressiva ou uma importação discreta, sem operação brasileira, como a Apple? Este é um assunto que é coberto pela imprensa especializada ou com muita paixão e "defesa" das empresas ou muito ódio. Não é por aí. Ainda vamos voltar bastante ao tema. Não torcemos contra a Sony Brasil ou a Microsoft. Nem a favor. Não é esse o nosso papel.
O problema:
Como a conversa foi mais um papo, com um monte de perguntas, resolvi encurtar as coisas separando o que o Guilherme falou por tópicos.
Temos de esclarecer um pouco dos fatos. Na hora que fazemos a composição dos preços, há alguns fatores importantíssimos: temos que sempre considerar frete e seguro, o que pode chegar a 10% do valor. Depois a carga tributária que é realmente muito elevada e todos os impostos que são cascateados, o que dá algo em torno de 151% de tributação. Depois tem desde o aluguel do espaço de venda à margem do distribuidor. Tudo isso acaba tirando um pouco a competitividade sobre o mercado paralelo. O Fantástico deste domingo fez uma matéria muito boa mostrando como alguns importadores colocam um valor subfaturado e pagam imposto sobre um valor menor.
A Microsoft está no mercado brasileiro há quase 4 anos, já subsidiamos muito da operação porque pensamos a longo prazo. Fizemos muito um trabalho de bandeirante, quando o PS2 era 90% do mercado. Sofremos todas as críticas que a Sony está sofrendo agora [ele chegou em 2006 a R$ 3.000], e aprendemos muito no mercado. Conseguimos condições muito boas, aprendemos o quanto vale reduzir a margem em determinada linha para ganhar daqui a X tempo. Conversamos com todo o canal do varejo e conseguimos convencer as principais redes a não importar mais o produto paralelo. Temos que manter a nossa linha comercial sadia para o cara não perder no futuro.
Muitas melhorias operacionais, como negociação de frete e seguro, avaliações das rotas, transporte aéreo ou marítimo. Outra coisa foi o próprio fator da posição da Microsoft no Brasil, de acreditar no médio e longo prazo. Mais outro motivo é a subsidiação da Microsoft global, que vende o console para o mercado brasileiro por um preço menor que venderia para um mercado mais maduro. O varejo acabou comprando a idéia, porque ele acaba vendendo bastante jogos e acessórios. Na média estamos no verde. Vamos muito bem, mas poderíamos estar melhor.
A competição da Sony neste momento é muito mais com eles mesmos. Até pelo fato de ter demorado todo esse tempo ela vai concorrer com um produto mais barato importado de outras maneiras. Mas é bom, podemos nos aliar para discutir melhor a questão dos impostos com o governo.
Para o varejo o console pode ter uma menor margem, mas o game pode dar um lucro maior [Guilherme disse "por aí" quando coloquei o lucro em torno de 25% - 30%]. Se vender consoles e muitos jogos, os jogos podem compensar não digo perda, mas a não tão atrativa margem. A Microsoft tem um subsídio do valor do jogo nacional - foi um acordo da subsidiária brasileira com a americana. É um pouco mais caro ainda que o importado, mas R$ 20 de diferença faz com que muitos consumidores prefiram o oficial a se arriscar a comprar no site americano ou Mercadolivre. É um diferencial a mais.
Não subsidiamos de fato. Na realidade eu poderia fazer mais dinheiro vendendo por um preço X, mas é a tal elasticidade de preço, aquela curva das primeiras aulas de Economia. Se vender mais barato ganho na quantidade. Jogos e acessórios vendem muito mais que console e tem um preço mais competitivo, então é interessante para o lojista. Mas ter o console é importante, é o que marca a presença no varejo, uma linha depende da outra. A Microsoft global está muito feliz com o nosso resultado. Em termos de performance de produtos, nunca estivemos tão agressivos. Temos diferenciais competitivos e para nós a competição é muito mais justa agora.
Até o final do ano teremos Live Brasileira e Kinect. O modelo novo (slim) deve chegar em novembro. Não sabemos precisar o preço final dele, possivelmente haverá um acréscimo. Teremos Halo [Reach] e Gears of War [3] em português em um mesmo ano fiscal, estamos bem fortes.
Hoje o nosso mercado oficial é 10% [ou 90% dos Xboxes comprados hoje no Brasil ainda são do mercado cinza ou importados]. Quando chegamos não era nem 1%. Hoje tanto o mercado paralelo quanto o oficial crescem. A Sony vindo oficialmente só vêm a somar.
Muita gente nos criticou semana passada sobre a nossa postura em relação ao lançamento do PlayStation 3. Afinal, era um evento importante para os gamers brasileiros e tínhamos que comemorar, como muitos sites especializados fizeram. Não somos tão amargos e estamos felizes em parte: adoramos o PlayStation 3 e é bom ver que ele terá manuais em português e assistência técnica local.
O problema não foi exatamente o preço: a Sony e a Microsoft no Brasil têm o direito de venderem o que quiserem pelo preço que quiserem e não vamos "reclamar" disso. Só queríamos questionar a velha justificativa dos impostos altos. Questionar não é dizer que ela é mentirosa, mas apenas que há argumentos sólidos para acreditar que não é só isso. E o que me incomoda, especialmente, é essa posição de vítima (tanto da Sony e Microsoft), de fazer parecer que vender um videogame tão caro no Brasil é quase como um favor, que eles se esforçam um bocado e afinal vamos ganhar muito como clientes pagando mais por algo nacionalizado.
Essa discussão é bastante difícil. E alguns vão achar que a "perseguição" à Sony continua com este post. Não é nada disso. Já fizemos nosso desabafo, hoje mostramos o lado da Microsoft, que é parecido com o da Sony, e estamos abertos para ouvir a Sony Brasil aqui. Mas se eles não quiserem falar com a gente você pode ler a longa e muito boa conversa que o Anderson Gracias, gerente do Playstation no Brasil, teve com o Pablo Miyazawa aqui (parte 1 e parte 2). As explicações deles estão todas lá.
De todo modo, a explicação das empresas não é a única verdade. Vamos continuar apurando informações sobre o assunto, da composição de preços e impacto dos impostos às margens do varejo, estudos sobre a fabricação local, quanto que o mercado paralelo movimenta e tudo isso. Será que vale à pena para o consumidor uma presença nacional mais agressiva ou uma importação discreta, sem operação brasileira, como a Apple? Este é um assunto que é coberto pela imprensa especializada ou com muita paixão e "defesa" das empresas ou muito ódio. Não é por aí. Ainda vamos voltar bastante ao tema. Não torcemos contra a Sony Brasil ou a Microsoft. Nem a favor. Não é esse o nosso papel.
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